A Questão dos Canhotos

Observando os desenhos de mãos, feitos pelos homens das cavernas, notou-se que a grande maioria das mãos desenhadas eram a esquerda, o que leva à conclusão que foram desenhadas pela mão direita. Mesmo nessa época já havia uma tendência maior para as pessoas serem destras em vez de canhotas. Nos animais, a porcentagem de canhotos e destros é igual.

De acordo com os estudos citados por Springer e Deutsch, os pais, sendo ambos destros, tendem a gerar 2% de filhos canhotos; entre os pais canhotos e destros 17% dos filhos são canhotos e quando os pais são todos dois canhotos a chance dos filhos serem igualmente canhotos é de 46%. Na população, de um modo geral, 10% são canhotos. No caso dos gêmeos essa porcentagem dobra: 20% deles são canhotos e têm maior incidência de problemas neurológicos, talvez devido à situação de desconforto causada pelo pequeno espaço no útero.

Estudos recentes sugerem uma interessante correlação entre lateralidade e sistema imunológico. Os doutores Norman Geschwind e Albert Galaburda, em suas pesquisas, chegaram à conclusão que, entre os canhotos, há um maior índice de certos problemas imunológicos. Em cinco dentre oito doenças imunológicas, o número de canhotos era bem maior do que o da população em geral. Eles supõem que o fato seja devido à presença de testosterona no desenvolvimento fetal que diminuiria o aprimoramento do hemisfério esquerdo, favorecendo o desenvolvimento do hemisfério direito. Como a testosterona atinge fetos de ambos os sexos, tendo uma menor atuação no feto feminino, isso explicaria a maior incidência de canhotos e deficientes de linguagem e cognição na população masculina.

Na maioria dos canhotos os hemisférios cerebrais funcionam da mesma forma que os das pessoas que preferem o uso da mão direita. Somente 4% dos canhotos têm as funções dos lobos cerebrais invertidas e menos de 1% dos destros têm as posições do criar e do recordar invertidas.

Existem pessoas que, ao escreverem, colocam a mão numa posição invertida, com o polegar voltado para baixo. Nesses indivíduos a função da fala está no hemisfério do lado da mão que escreve. Se é canhoto a fala está no lado esquerdo; se é destro, a fala está no lado direito do cérebro. Isto facilita, de certa forma, a identificação do hemisfério que rege os mecanismos da linguagem, assim como qual deles está dirigindo o aspecto criativo.

São poucos os canhotos que escrevem com postura normal. Springer e Deutsch, analisando este assunto, dizem o seguinte:

"Em um estudo medindo a quantidade de atividade alfa em cada hemisfério, canhotos com postura normal mostraram mais envolvimento de áreas visuais do hemisfério direito durante tarefas de leitura e escrita do que os invertidos. Não foram encontradas diferenças quando os indivíduos eram solicitados a falar ou escutar material verbal."
É interessante essa informação, pois leva a crer que os canhotos que escrevem numa posição normal utilizam os dois hemisférios para atividades de linguagem, o que lhes dá maior agilidade mental e melhor aproveitamento de suas faculdades. Jerre Levy notou que muitos canhotos tinham habilidade linguística nos dois hemisférios, levando-a a pensar que as funções espaço-visuais eram menos desenvolvidas pelo fato do hemisfério direito estar com determinada área ocupada pela habilidade linguística. Essa hipótese foi comprovada através de experiências.
Alguns pesquisadores chegaram a pensar que a função linguística, sendo distribuída mais bilateralmente nos canhotos, os dotavam de habilidades superiores, tornando-os mais criativos.

É certo, porém, que um maior e mais eqüitativo aproveitamento das funções dos dois hemisférios, sejam entre canhotos ou destros, leva o indivíduo a ser mais imaginativo, mais capaz de resolver questões difíceis do seu dia-a-dia, a perceber e compreender o que o cerca, além de desenvolver habilidades e potencialidades que estão latentes no ser humano. Algumas pessoas que desejam aprender a desenhar, pensam que, pelo fato de utilizarem a mão esquerda vão ser capazes de desenhar bem. Aprender a desenhar é aprender a ver e a criar. Essas condições não se desenvolvem mudando de mão e sim desenvolvendo características próprias. Existem excelentes pintores que trabalham com os pés, com a boca e com as duas mãos. Aprendendo a ver, a perceber traços e formas, consegue-se desenhar bem.

Celeste Carneiro é artista plástica, educadora e terapeuta. Orienta cursos sobre Criatividade e Cérebro, Facilitando a Aprendizagem e outros.
E-mail: cel5@terra.com.br

fonte: http://www.epub.org.br/cm/n15/mente/lateralidade.html#Para%20Saber

0 comentários: